Na ótica da antropologia bíblica, o ser humano é concebido como um ser único e completo, cuja existência está em constante referência a Deus. Em sua multidimensionalidade, o ser humano é uma criatura esculpida pelas mãos hábeis do Criador. O ser humano não detém, em si, o propósito de sua existência, mas o recebe como um presente divino. Ele não se autoproduz; sua vida é dada por outro. Sua existência é fruto de uma generosidade, de um dom imerecido. A criatura resulta da bondade abundante do Criador. O ser humano é a única criação moldada à imagem e semelhança de Deus. A imagem de Deus se reflete na unipluralidade do ser humano. Não é um único aspecto do ser humano, mas o ser humano em sua totalidade que é a imagem de Deus. A condição adâmica de imagem de Deus alcança sua plenitude e realização em Cristo, conforme afirmou São João Paulo II: “Jesus, rosto divino do homem. Jesus, rosto humano de Deus.”
Sob a ótica cristã, o ser humano não pode ser visto como uma entidade isolada, fechada e desconectada do Criador. Criado à imagem de Deus, o ser humano está, por sua natureza, direcionado a Ele, ainda que tal compreensão lhe seja desconhecida. O ser humano possui uma vocação escatológica: participar da vida divina, ou seja, viver na Graça. É neste contexto que a imagem-cópia se une à imagem-modelo. Isso ocorre por meio da mediação da “imagem da Imagem”, o Filho. A partir da cristologia, a antropologia pode atingir sua expressão arquetípica: a teologia.
A condição de imagem de Deus implica que o ser humano, em comparação com as demais criaturas, é portador de uma singularidade e de uma axiologia ontológica únicas. Somente o ser humano goza da prerrogativa de ser a criatura que Deus escolheu criar à Sua imagem. Trata-se de uma particularidade e uma singularidade exclusivamente humanas. Como imagem, o ser humano é (ontologia) e possui um valor (axiologia) superior a qualquer outra realidade criacional. Em outras palavras, como imagem de Deus, o ser humano ocupa uma posição central na criação.
Nesse contexto, observa-se, estimado leitor, que buscar uma vida justa, unir-se a Deus e refletir, em todas as nossas ações, a imagem do Senhor não é apenas uma escolha, mas algo que pertence à nossa natureza humana. Quantos de nós, ao ver nossos filhos ainda pequenos, agindo de maneira impetuosa e travessa, diante de nossas repreensões, exclamamos: “Não foi assim que te ensinei… Vão pensar que não é meu filho. Por favor, não faça mais”?
E por que fazemos isso? Porque desejamos que nossos filhos expressem, por meio de suas atitudes, aquilo que é inegociável para nós, especialmente no que diz respeito à prática do bem.
De maneira análoga, em nossa condição de filhos de Deus, devemos demonstrar nossa origem divina, não apenas ostentando símbolos que revelem nossa identidade, mas, sobretudo, por meio de nosso comportamento cotidiano, em todos os lugares, transformando nossas ações em oração e atos de amor a Deus.
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