A realidade do transporte público em Campos dos Goytacazes tem sido marcada por graves problemas, evidenciados na última semana com a apreensão de três veículos e um que apresentou pane. Paralelamente, um cenário de promessas não cumpridas se agrava: o tão aguardado aplicativo para acompanhamento em tempo real dos usuários ainda não se concretizou. Além disso, o subsídio municipal ao óleo diesel, iniciado em 2022 para empresas e permissionários, representa uma despesa significativa para os cofres públicos sem apresentar melhorias visíveis no sistema. A situação é ainda mais alarmante com a fiscalização ineficiente, que permite a circulação de ônibus com documentação atrasada e restrições.

Com o fim do ano se aproximando, a crise no transporte público de Campos dos Goytacazes atinge seu ponto mais crítico. Aquilo que deveria ser um direito básico, a locomoção urbana, tornou-se um verdadeiro martírio para quem depende do sistema. Os relatos de usuários, as constantes paralisações e os dados sobre a estrutura atual revelam uma realidade dura: o transporte em Campos não funciona. E, pior, em muitas regiões, ele simplesmente não existe.
A situação é caótica tanto na área urbana quanto na zona rural. Bairros inteiros da cidade não têm qualquer tipo de atendimento por ônibus ou vans. Moradores dos conjuntos Vivendas dos Coqueiros 1, 2, 3 e 4, Cidade Jardim, Prado, Angélica, Bela Vista, Tarcísio Miranda, Capão, Tropical, Varanda do Visconde, entre outros, são obrigados a caminhar quilômetros até o ponto mais próximo ou pagar corridas de aplicativo que ultrapassam R$ 20 por trajeto.
Na zona rural, o abandono é ainda mais gritante. Localidades como Mata da Cruz, Divisa, Babilônia do Imbé, Seis Maria, Mutuca, Pitangueiras, Mulaco, Marrecas, Caboio, Correnteza, entre muitas outras, simplesmente não possuem qualquer forma de transporte público. Em muitas dessas regiões, os poucos horários existentes se encerram antes das 18h, deixando trabalhadores e estudantes completamente desassistidos. A situação se agrava drasticamente aos domingos, quando o transporte é praticamente inexistente. Localidades como estas ficam completamente ilhadas, impedindo que as pessoas se desloquem para lazer, compras ou para visitar familiares. Isso representa um verdadeiro paradoxo, uma vez que a prefeitura subsidia o óleo diesel justamente para evitar que tais práticas ocorram.

As pessoas estão se virando como podem: pegando carona, com um aumento gritante no número de bicicletas elétricas, pois a população precisa trabalhar e cada um está dando seu jeito. Infelizmente, a cada dia que passa a perspectiva de melhora vai deixando de existir. Até quando vamos viver nessa situação? Até quando os políticos irão continuar de braços cruzados sem nada a fazer? Até quando a população irá continuar pagando esse preço e sem qualquer perspectiva de melhora?
Enquanto a população sofre, os problemas só se acumulam. Ônibus e vans quebrando frequentemente no caminho é uma realidade, causando transtornos e, em muitos casos, levando à perda de empregos por falta de transporte confiável. Um ônibus pegando fogo após pane mecânica, veículos circulando com licenciamento vencido, frota reduzida onde saímos de uma realidade de 15 empresas operando em 2007, restando apenas 5 em 2025, funcionando como se estivessem na UTI. Os permissionários de vans convivem com instabilidade financeira, ameaças de paralisação e atrasos no repasse do subsídio. Embora os serviços tenham retornado após a última paralisação, a instabilidade continua, e o medo de uma nova suspensão paira no ar.
As promessas da atual gestão não saíram do papel. A tarifa, que deveria ser reduzida com a volta da “passagem social”, aumentou. Os terminais, criticados durante a campanha eleitoral, estão sendo reimplantados sem qualquer debate público. E as três estações de integração anunciadas desde 2022 em Donana, Nova Canaã e Estrada do Araça continuam inacabadas, mesmo após um aditivo de 25% sobre o orçamento inicial de R$ 15 milhões.

A audiência pública realizada recentemente na Câmara, embora necessária, não trouxe resultados práticos até agora. O que se vê nas ruas é o oposto do que foi prometido: linhas inexistentes, superlotação, atrasos, veículos em péssimas condições e total ausência de fiscalização eficiente.
Relatos de moradores das localidades afetadas mostram o desespero de quem precisa do transporte para estudar, trabalhar e viver e não encontra suporte. Em muitos casos, não é exagero dizer que a população anda a pé ou não anda. Infelizmente, quem está no poder raramente precisa ou utiliza o sistema de transporte público, o que, de certa forma, contribui para a falta de prioridade e de soluções efetivas.

Campos dos Goytacazes, uma cidade com enorme potencial econômico, universitário e social, continua estagnada quando o assunto é mobilidade urbana. A atual gestão não apenas falhou em cumprir o que prometeu, como agravou um problema histórico com falta de planejamento, comunicação e ação.
O transporte público em Campos está em colapso. E a população segue sozinha, esperando um ônibus que não vem.
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