A recente retomada do debate sobre o voto impresso no Brasil foi rapidamente tachada por muitos setores da imprensa e por parte do meio acadêmico como um “retrocesso perigoso”. A narrativa dominante é a de que as urnas eletrônicas são infalíveis, seguras, auditáveis e internacionalmente reconhecidas como exemplo de eficiência. Mas será que é mesmo retrógrado ou antidemocrático discutir mecanismos que ampliem a transparência do processo eleitoral?
É importante deixar algo claro desde o início: questionar um sistema não significa, necessariamente, desacreditá-lo. Democracias saudáveis se constroem sobre os pilares da dúvida, da fiscalização e da constante busca por aprimoramento. O voto impresso, longe de representar uma tentativa de minar a democracia, pode quando bem implementado funcionar como um mecanismo adicional de conferência, oferecendo ao eleitor uma camada extra de segurança e confiança no processo.
O argumento da segurança
Afirma-se que o voto impresso abriria espaço para fraudes manuais e violação do sigilo. No entanto, o que muitos defensores do modelo propõem não é um retorno ao antigo voto em papel, mas a implantação de um comprovante físico gerado automaticamente pela urna eletrônica, depositado em uma urna lacrada, sem contato direto do eleitor. Esse modelo não elimina a tecnologia pelo contrário, a complementa. Ele permitiria auditorias independentes, algo essencial em qualquer sistema democrático que se preze.
Custo ou investimento?
Outro ponto levantado é o suposto custo bilionário da implementação do voto impresso. Sim, há custos. Mas toda estrutura democrática robusta tem um preço e garantir a confiança pública no processo eleitoral deveria ser uma prioridade, não um fardo. Se há recursos públicos para financiar campanhas milionárias, deve haver também para fortalecer os mecanismos de auditabilidade.
Exemplos internacionais mal interpretados
Alguns citam países como Alemanha e Holanda, que abandonaram o voto eletrônico. Curiosamente, esse fato é usado como argumento contra o voto impresso no Brasil. Mas a realidade é que esses países deixaram o modelo puramente eletrônico justamente por não o considerarem suficientemente auditável. Ou seja, caminharam na direção oposta à do Brasil: voltaram ao papel e à conferência manual por prezarem pela transparência.
Debater não é atacar
Reduzir o debate sobre o voto impresso a uma tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral é desonesto com a própria democracia. Não se trata de escolher lados ideológicos, mas de garantir que todos os cidadãos possam confiar no processo, independentemente de quem vença. Para isso, precisamos de mais debate, mais transparência, mais auditoria e menos medo de revisitar decisões tecnológicas tomadas há quase 30 anos.
Um convite à reflexão
É preciso cautela para que o eleitor brasileiro não seja levado a acreditar que todo questionamento representa uma ameaça ou um golpe. Debater a transparência das eleições é, na verdade, um exercício de cidadania. O fortalecimento da democracia começa quando a sociedade é ouvida, informada e convidada a participar ativamente das decisões que moldam o seu futuro. O voto eletrônico pode ser seguro, mas aprimorá-lo com mecanismos complementares não deveria ser um tabu.
Confiar no sistema é importante. Mas poder verificar, quando necessário, é ainda mais democrático.





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